Notícias

NotíciasSegurança da aviação brasileira: infelizmente o CENIPA e os veículos de comunicação continuam informando mal11/01/2025

Em maio de 2019 a AOPA Brasil já alertava que dados sobre acidentes aeronáuticos no Brasil, então divulgados por um grande veículo de comunicação, desinformavam a opinião pública ao invés de ajudá-la a compreender o que se passava.

Passados mais de 5 anos, CENIPA e órgãos de imprensa continuam divulgando análises inconsistentes.

Antes de mais nada, deixemos algumas coisas claras:

1) A AOPA Brasil confia no trabalho de investigação de acidentes aéreos feito pelo CENIPA. Trata-se de um órgão sério, gerido por técnicos de primeira qualidade.

2) A AOPA Brasil entende que o CENIPA se comunica muito mal com a opinião pública. O caso mais recente envolvendo uma aeronave da Voepass pode ter sido um sinal de mudança muito positivo. O mundo de hoje não "tem tempo" para esperar anos por um Relatório Final para que, então, a maior autoridade de segurança se manifeste. O NTSB, por exemplo, já adota práticas mais ágeis de explicação rápida para a opinião pública, resolvendo as dúvidas mais óbvias com rapidez e acalmando a sociedade, que não se conforma (com razão) quando acidentes aéreos ocorrem. No caso do Voepass, o CENIPA agiu muito bem, ou muito melhor do que normalmente faria.

3) A AOPA Brasil afirma categoricamente: os dados sobre acidentes aéreros publicados pelo CENIPA não estão errados. Mas as análises e explicações, transmitidas para a impresa da forma como são, levam a conclusões erradas por parte da opinião pública e da própria comunidade aeronáutica. 

4) O estado da aviação geral brasileira poderia, com toda certeza, melhorar muito. Mais proficiência, mais treinamento, mais acesso a tecnologias modernas, menos burocracia são alguns fatores que, com certeza, tornariam a aviação geral brasileira mais segura. Bastaria o Estado não atrapalhar com impostos e regulações que os operadores e aviadores, maiores interessados na segurança, avançariam no sentido correto. Como ocorreu em inúmeros países, como Estados Unidos, Canada, Australia, Alemanha, Nova Zelândia, Chile... só para mencionar alguns.

Dito isso, a forma como o CENIPA transmite dados, a imprensa tradicional os divulga e um monte de influenciadores mal intencionados ganham cliques para ganhar dinheiro, formam um caldo de desinformação total.

Acidentes ou incidentes irão ocorrer. Infelizmente, falhas ocorrem em qualquer atividade complexa. Falhas podem levar a incidentes e acidentes pela complexidade da operação. O trabalho dos técnicos, de toda a indústria e dos operadores é buscar incessamente reduzir as chances de falhas ao mínimo possível.

A única forma correta de medir o grau de segurança de uma atividade é contrapondo a quantidade de falhas ao volume de trabalho realizado. Simplificando, se de um dia para o outro não voássemos mais, os acidentes aéreos acabariam. Em contrapartida, quanto mais se voa, mais falhas ocorrem. Havendo mais falhas, potencialmente mais incidentes e mais acidentes acontecerão em números gerais.

Sendo assim, o CENIPA deveria ter a obrigação de divulgar análises SEMPRE comparando a quantidade de acidentes com a quantidade de operações aéreas que aconteceram em um dado período. O que interessa são quantos incidentes acontecem em função do volume de voos que são realizados. Isso está consolidado na metodologia de segurança operacional há muitas décadas. 

Importante: o Brasil possui estatísticas sobre a quantidade de acidentes em função de horas
voadas, por tipo de operação aeronáutica.

A ANAC, através da ASSOP - Assessoria de Segurança Operacional, trabalha dados bastante consistentes há muitos anos, usando método muito semelhante ao de outros países. Faz isso usando os dados de quantidade de acidentes e incidentes, contrapostos ao volume de horas voadas, por segmento da aviação. O volume de horas voadas é uma aproximação muito robusta, produzida em função dos registros anuais de manutenção de todas as aeronaves que possuem certificado de aeronavegabilidade válido e o consumo total de combustíveis aeronáuticos no Brasil, entre outros fatores. Os dados são públicos e podem ser achados AQUI.

Além disso, a ANAC também mantém um Painel público melhor do que de muitos outros países, que pode ser acessado AQUI.

Fatos: considerando todos os segmentos da aviação geral (agrícola, taxi aéreo, aviação privada, instrução, serviços especializados e aviação pública), em 2019 ocorreram 9,3 acidentes a cada 100.000 horas voadas no Brasil. Em 2024 (dados ainda não encerrados), esse número estava em 6,9 acidentes a cada 100.000 horas voadas pela aviação geral. Segmentos como Taxis Aéreos, Aeronaves de Instrução e operações de Segurança Pública tiveram reduções muito significativas na quantidade de acidentes.

Essas análises não tornam as informações do CENIPA erradas. São os mesmos dados, mas melhor analisados.

Não há como resolver um problema sem conhecê-lo direito. A comunidade aeronáutica, o CENIPA e a ANAC devem trabalhar continuamente para que operemos com mais segurança! Há muita oportunidade para que a aviação brasileira se torne mais segura. Mas a verdade é que os dados nos mostram que estamos progredindo. E temos muito ainda a fazer. O resto é alarmismo que não ajuda em nada nem à redução de acidentes, nem a boa informação da opinião pública. 





Dúvidas ou sugestões? Nos escreva!










fale conosco

(11) 97237.3877

(11) 97237.3877