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NotíciasSegundo o G1, um avião privado se acidenta a cada 5 dias no Brasil. Por que isso não diz nada?30/05/2019

Matéria publicada ontem no G1 diz que "Neste ano houve um acidente com avião privado a cada 5 dias e 15 horas no Brasil, segundo levantamento realizado pelo G1, com base em dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea (FAB)", que "de 1º de janeiro a 27 de maio de 2019, 26 aviões particulares sofreram acidentes no país".

Apresentados de forma descuidada, sem qualquer embasamento técnico, esses dados não dizem nada de útil.

O G1 está cometendo um equívoco ao divulgar esse tipo de informação, assim como a FAB e a ANAC, se não corrigirem a análise, participarão do erro, uma vez que são citadas como "fontes" dos dados.

Divulgar quantidades absolutas de acidentes ocorridos, sem qualquer cuidado estatístico, segregação de categoria de operações e relativização da quantidade de acidentes a partir de estimativas de volume de operações da frota, em séries históricas relevantes, nada mais é do que divulgar factoide, desinformar, prestar desserviço à sociedade.

A primeira coisa que o jornalismo do G1 poderia ter feito, se fosse cuidadoso, e não fez, nós faremos. Gratuitamente.

Partindo de uma pergunta bem simples e com espírito curioso, seria lógico pensar: esse número de acidentes é alto ou baixo? Quantos acidentes aéreos ocorrem com aeronaves não envolvidas em operações comerciais regulares, nos Estados Unidos, por exemplo?

Numa pesquisa rápida no Google, a editoria do G1 descobriria que nos Estados Unidos há séries históricas de análises robustas, que já estão na 27ª edição anual. 

Ou seja, são quase 30 anos de trabalho, de gente especializada, estudando o assunto. Fazendo o download gratuito do estudo, encontraria um gráfico, na página 6, e através dele seria capaz de constatar que, no último ano analisado pelos norte-americanos, ocorreram 1.173 acidentes com aeronaves com peso máximo de decolagem inferior a 5.700 kg (pequeno porte) e helicópteros de todos os portes, no espaço aéreo norte-americano. 

Insistindo na lógica de medir segurança pelo número de acidentes num dado período, ao fazer um cálculo tão simples quanto dividir 1.173 acidentes por 365 dias, descobriria que nos Estados Unidos há 3.21 por dia! Olhando de novo para os "dados brasileiros", o jornalismo do maior veículo de comunicação do Brasil, então chegaria a uma dúvida incrível: como a aviação brasileira pode ter tantos acidentes a menos do que nos Estados Unidos, se aqui, em média, só há um acidente a cada 5 dias?" 

"Ah, nossa frota é muito menor", poderia concluir. É verdade. Mas será que é menor a ponto de ter tantos acidentes a menos? "Nos Estados Unidos se voa mais, então por isso há mais acidentes". Pode ser. Mas quanto se voa no Brasil?

Dessas primeiras reflexões, o jornalismo do G1 então poderia ler o relatório completo produzido pelo Air Safety Institute e conversar com verdadeiros especialistas em segurança de voo, no Brasil. Assim, fazendo perguntas minimamente inteligentes e tendo raciocínio, talvez chegasse a conclusão que falar em acidentes aéreos não é um negócio tão trivial quanto fazer operações matemáticas básicas, montar gráficos e publicar uma notícia que somente fará o leitor ficar apreensivo com um dado não tratado, não analisado e apresentado de forma infundada.

Afirmar que a nossa aviação geral leve é segura ou insegura são outros quinhentos. Mas o que afirmamos, com prudência, é que uma matéria mostrando quantidade de acidentes por dia, demonstra bastante desconhecimento e descuido da editoria do G1 com um assunto que deveria, pela importância, merecer atenção com dados e análises críveis, que estão longe de estar representados com o que foi divulgado na matéria. Quem se intitula produtor de informação confiável não deveria se prestar a esse tipo de papel.




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