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NotíciasPresidente Bolsonaro: sem a aviação geral nunca haverá um caribe brasileiro!04/07/2019

O Presidente Bolsonaro repete com certa regularidade que enxerga potencial para que o sul fluminense se torne o "caribe brasileiro". Considerando a beleza da região, não há como discordar. A questão é que, provavelmente, ninguém informou o Presidente, ou o Ministro Tarcísio Freitas, que o "Caribe" da América Central existe, rico daquele jeito, porque a aviação geral norte-americana funciona forte e saudável, diferente da brasileira.

Todos os anos, mais de 20 milhões de americanos saem dos Estados Unidos rumo ao Caribe. Desses, uma grande parte vai com aviões próprios, de pequeno porte. Para se ter uma ideia desse movimento, somente as Bahamas faturam 387 milhões de dólares por ano com o movimento de aeronaves da aviação geral que chegam nos seus aeroportos, segundo especialistas do setor. 

Essa riqueza é gerada porque o governo americano e das ilhas do caribe decidiram não atrapalhar o desejo dos consumidores, mas muito pelo contrário, facilitar a vida de quem quer voar para lá. Isso em nome de gerar riqueza.

O processo é muito simples, sem burocracia. As licenças de pilotos e aeronaves são as mesmas. Documentos solicitados a bordo, idênticos. Com um selo anual que custa US$ 28,84 e passaportes nas mãos, pilotos americanos, suas famílias e amigos aproveitam as 600 ilhas que estão afastadas não mais do que 100 km da Flórida. 

O que assusta e desanima é conhecer exemplo tão óbvio como esse, da América do Norte e Caribe, e escutar o Presidente da República falar que gostaria de ver o sul fluminense como o "nosso" Caribe, conhecendo como a nossa ridícula realidade funciona.

Aqui no Brasil se faz exatamente o contrário: todas as medidas são tomadas para arruinar qualquer ideia de alguém usar a sua própria pequena aeronave e voar para o litoral:

(1) O herói brasileiro que decidir fazer isso, primeiro, precisará se certificar que há gasolina para sua aeronave ir e voltar. Com total desleixo das autoridades aeronáuticas, a Petrobras largou o mercado e há mais de 1 ano abastecer um tanque com AVGas tornou-se incerto, além de custar mais do que o dobro do que em aeroportos norte-americanos.

(2) Com gasolina a bordo, o piloto vai se meter num emaranhado de "corredores visuais" inventado pelo DECEA para "organizar" o voo visual. Embora esses corredores não sejam necessários em lugar nenhum civilizado, aqui no Brasil decidiu-se que colocar aeronaves para voar a baixa altura, em corredores estreitos, sem controle, em mão dupla, "era uma boa ideia". Sem contar que num voo de meia hora, saindo de Jundiaí-SP para Angra dos Reis-RJ, o piloto em comando terá que sintonizar pelo menos 4 frequências diferentes. Tudo isso em nome da "segurança" tupiniquim.

(3) Ao chegar num aeroporto do "Caribe brasileiro", desejado pelo Presidente Bolsonaro, em Paraty-RJ ou Angra dos Reis-RJ, terá que avaliar a aproximação com cuidado, pois não há NENHUM auxílio à navegação para o pouso, como se a tecnologia de navegação GPS não existisse por aqui. Se resolver ficar em Ubatuba-SP, no litoral norte de São Paulo, terá que ter conseguido decifrar como funciona a "oferta" de pátio de estadia da VOA-SP para não acabar pagando, pelo estacionamento da avioneta, mais do que uma suíte num hotel cinco estrelas da cidade.

(4) A qualidade do asfalto das pistas e do pátio de estacionamento será na base da sorte. Podem estar razoáveis ou péssimos. O pagamento pela estadia dependerá do "esquema" da ocasião, do administrador do aeroporto, do amigo do amigo. Pode ser que o proprietário receba a cobrança, pode ser que tenha que pagar na hora para "o sistema não cobrar", pode ser que acabe recebendo um boleto, pode ser que não.

Essas são só as principais partes da "aventura", que pode ter mais detalhes, dependendo da época do ano, do NOTAM inventado ou do "desafio" de abastecimento de AVGas que se estiver passando.

Diante desse contexto, escutar o Presidente da República falar que gostaria de ver a região sul fluminense e o litoral norte de São Paulo como o Caribe vira piada para quem sabe como as coisas funcionam, hoje, na nossa aviação.

A AOPA Brasil acredita que o Presidente Bolsonaro ainda não saiba desses detalhes, nem o ministro Tarcísio Freitas. Por isso o nosso tom fica mais como alerta do que como crítica à situação ridícula com que a aviação geral e suas mais de 11 mil aeronaves estão sujeitas, hoje, no Brasil. Mas o tempo está passando... Já se foram 6 meses de governo. Já há muita gente do governo sabendo dos problemas e os prazos dos votos de confiança acabando. Ainda há enorme esperança desse governo não se tornar a continuidade de um conjunto de barbaridades que praticamente destruíram uma aviação que levou mais de 80 anos para ser erguida e que já foi uma das mais pujantes do mundo.

Ainda há tempo para corrigir os problemas, mas a confiança depende de ATITUDES, não de palavras.




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